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terça-feira, 2 de novembro de 2010
Governador eleito do AP promete 'transparência total' na gestão
Político mais jovem eleito governador nas eleições deste ano, Camilo Capiberibe (PSB), 38 anos, assumirá o estado do Amapá em 1º de janeiro com a responsabilidade de reorganizar uma gestão sob suspeita de abrigar um suposto esquema de corrupção que se alastrava por ao menos nove órgãos estatais.
As irregularidades são investigadas pela Polícia Federal na Operação Mãos Limpas. Deflagrada em 10 de setembro, a menos de um mês do primeiro turno da eleição, a operação prendeu 25 pessoas sob suspeita de envolvimento em desvios de recursos públicos do estado e da União.
Entre os presos estão o ex-governador Waldez Góes (PDT) e o atual governador, Pedro Paulo Dias (PP), que passou nove dias detido e transmitirá o cargo a Capiberibe, após perder a disputa pela reeleição.
A própria eleição de Capiberibe foi resultado direto da crise política que se abateu sobre o estado. De quarto colocado nas primeiras pesquisas eleitorais, o filho do ex-governador João Capiberibe (PSB, 1995-2002) levou a disputa ao segundo turno e virou o jogo contra Lucas Barreto (PTB), em eleição em que ambos procuraram erguer a bandeira da mudança.
Em entrevista ao G1, Capiberibe aponta consequências positivas da operação da PF, que, segundo ele, introduziu na campanha o tema da transparência na gestão pública. Diz que desde domingo (31) ainda não conseguiu falar com o governador Dias, mas que o procurará oficialmente nesta quarta (3) para começar a organizar a transição.
O governador eleito disse que irá promover "transparência total" nos gastos do governo. Afirmou que a situação da gestão hoje é crítica, com dívidas acumuladas com fornecedores e prestadores de serviço. Apesar disso, reiterou a viabilidade de propostas de sua campanha, como a cessão de um notebook a cada professor da rede pública.
Leia abaixo os principais tópicos da entrevista com o governador eleito do Amapá, ex-território federal de 626 mil habitantes e que representa 0,2% do Produto Interno Bruto do país:
Operação Mãos Limpas
Capiberibe afirma que a ação da PF é "positiva" por "exigir da sociedade uma grande reflexão sobre o que vinha acontecendo e o que ela quer que aconteça". Reconhece que a corrupção estava "entrincheirada" na máquina pública, e que a revelação das supostas irregularidades motivou demandas na sociedade por combate ao desvio de recursos públicos.
O governador eleito disse que irá reforçar o papel de órgãos de controle da administração. Afirmou, por exemplo, que transformará a Auditoria Geral do Estado em Controladoria Geral do Estado.
"Vamos implantar transparência total no governo. Todos os gastos vão ser transparentes, de uma caneta que se compra ao metro de construção. E o problema não é só de corrupção. Há problema geral de gestão, dívidas paradas. A situação do estado é crítica, e isso vai exigir um exercício grande de concentração em torno de superar isso", disse.
Transição de governo
O socialista diz que já tentou, sem sucesso, contato com o governador Pedro Paulo Dias (PP). Defende uma transição sem sobressaltos, mas reconhece que a atual gestão pode dificultar o acesso de sua equipe aos dados da gestão.
"Não consegui conversar com o governador [desde domingo, 31]. Já tentei ligar, mas o telefone está fora de área. Minha expectativa é que ele atenda. O que pode acontecer é adiar o acesso aos dados, mas impedir não tem como. Amanhã [3], passado o feriado, pretendo procurá-lo institucionalmente para debater os mecanismos para a transição", afirmou.
Promessas de campanha
Ainda que aponte dificuldades financeiras do estado, Capiberibe defende a viabilidade de algumas de suas propostas de campanha, como a entrega de notebooks a professores.
"Já governamos [seu grupo político] o estado, os recursos eram menores e fizemos muito. Um dos problemas hoje é o desperdício de recursos e a corrupção. Não há dinheiro para fazer tudo, mas não é problema de falta de dinheiro. Temos R$ 170 milhões do PAC [Programa de Aceleração do Crescimento, federal] para o Amapá e nem 10% foi executado. Temos dois empréstimos captados no BNDES, de R$ 204 milhões e R$ 980 milhões. Vamos montar uma equipe muito capaz para poder captar recursos do governo federal. Isso me dá uma certa tranquilidade", disse Capiberibe.
Pais barrados pela Lei da Ficha Limpa
Camilo Capiberibe foi alvo de críticas durante a campanha em razão de os pais, João e Janete Capiberibe, estarem com as candidaturas ao Senado e à Câmara suspensas com base na Lei da Ficha Limpa. Ambos foram eleitos, mas o resultado está em suspenso em razão de terem tido os mandatos cassados pela Justiça Eleitoral em 2005 sob acusação de compra de votos na eleição de 2002.
"Eles foram eleitos, João foi eleito senador e minha mãe foi a deputada federal mais votada [no estado]. Tenho convicção que vão tomar posse. Não cabe, na minha avaliação, que um, dois ou três juízes decidam sobre o voto da população. Foram eleitos porque o povo escolheu, e isso tem que ser respeitado. Afinal, quem tem o poder de decidir hoje no Brasil não é o povo? E como deputada e senador, terão em meu governo o papel de parlamentares em um governo de coalizão, assim como outras lideranças vão ter", disse.
Papel do PSB no governo Dilma Rousseff
Para o governador eleito, o bom resultado nas urnas nas eleições deste ano credencia o PSB a ter voz mais ativa no futuro governo Dilma Rousseff. A sigla hoje comanda o ministério de Ciência e Tecnologia e a Secretaria Especial de Portos, que tem status de ministério.
"Eu acho que o PSB se credenciou para ter um papel mais amplo no governo federal. Para ser mais ouvido em relação à direção que o governo vai tomar. São quatro senadores, 35 deputados federais e seis governadores. Nessa nova configuração, acho que o PSB vai ter maior influência nos rumos do governo", afirmou.
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