"Um ponto imortal na história da inteligência brasileira", definiu o presidente José Sarney em discurso na sessão solene de homenagem aos 30 anos de morte do cineasta Glauber Rocha, iniciativa da senadora Lídice da Mata (PSB-BA). Integra a celebração neste mês de agosto, a exibição de vários de seus filmes pela TV Senado. "O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro (1969)", "Deus e o Diabo na Terra do Sol" (1964) e "Terra em Transe (1967)" são marcos do Cinema Novo, que tinha Glauber como um de seus ícones.
Glauber teve sólida amizade com o presidente José Sarney, de quem filmou a posse ao governo do Maranhão. Batizado de "Maranhão 66" é um clássico do documentário brasileiro "Ele não filmou a minha posse, ele filmou a pobreza do Maranhão, (...) e no meio de tudo aquilo ele colocou a minha voz, mas não a voz do governador. Ele modificou a ciclagem para que a minha voz parecesse (...) como se fosse a voz de um fantasma diante daquelas coisas quase irreais", relembrou Sarney no discurso em que também contou que na primeira exibição do filme, em um cinema de arte, a reação inicial, de desconfiança, transformou-se em aplauso. Por que, indagou Sarney. "Porque, em vez de filmar a minha posse, ele filmou o Maranhão, seus casebres, seus tipos de rua, sua miséria e sua esperança."
Durante a sessão, Sarney recebeu comunicado da ministra da Cultura, Ana de Hollanda, empenhando a palavra de que o "Tempo Glauber" não vai desaparecer e terá todo seu apoio. Esse espaço foi criado em 1986, quando Sarney, então presidente da República, ajudou a família Rocha a conseguir terreno no Rio de Janeiro para guardar a memória do cineasta que se tornou símbolo do cinema brasileiro.. No dia 20 de agosto daquele ano, Sarney assinou protocolo da criação do Tempo Glauber.
Hoje, companhado pelo olhar atento e emocionado de familares do cineasta, Sarney definiu o amigo: "Nada conseguiu dominá-lo: nem Deus aprisionou seu espírito, nem nenhuma ideologia o cativou. Nenhum homem, nenhum carisma, nenhuma mulher conseguiu escravizá-lo. Nada. Porque nele havia o desejo de liberdade, daquela liberdade feita da vastidão de todos os gestos, sem peias, sem limites nem conveniências, disse para marcar: "Um homem que usava a sua liberdade até o limbo de uma santa demência. Poucas pessoas amaram tanto este país, sentiram tanto esta pátria quanto Glauber Rocha".
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