quinta-feira, 5 de julho de 2012

Deputada: Operação Condor, na ditadura, recebeu apoio de grandes empresas





A deputada Janete Capiberibe (PSB-AP) afirmou, nesta quarta-feira, que está claro que a Operação Condor, que torturou e assassinou milhares de pessoas na América Latina, na década de 60, recebeu o apoio de empresas multinacionais com alta lucratividade. “A esquerda coloca em risco o lucro de grandes grupos econômicos. Todos os desaparecimentos, torturas e mortes ocorreram por causa de objetivos financeiros e econômicos.”
A deputada contou que foi uma sobrevivente da ditadura militar. Ela foi integrante da Aliança Libertadora Nacional, comandada por Carlos Marighela. “Em 1970 fui presa. Durante nove anos, fiquei exilada na Bolívia, Chile, Canadá e Moçambique. Retornei ao Brasil em 79, depois da aprovação da Lei da Anistia”, relatou.
Janete Capiberibe deu a declaração durante o Seminário Internacional Operação Condor, promovido pela Comissão Parlamentar Memória, Verdade e Justiça, ligada à Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara. A Operação Condor, criada em 1960, foi uma aliança político-militar, entre os regimes ditatoriais de cinco países da América do Sul: Argentina, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai. O objetivo era coordenar a repressão aos opositores dessas ditaduras e eliminar líderes de esquerda que militavam nos cinco países.
Dez mil vítimas
O juiz federal da Argentina, Daniel Rafecas, que também participou do evento, afirmou que até agora foram identificadas dez mil vítimas da ditadura militar no país, durante a Operação Condor. Ele afirmou que essas vítimas foram identificadas com a abertura de mil processos contra pessoas acusadas de torturas.
Segundo ele, respondem a processos chefes dos centros clandestinos de detenção e chefes das Forças Armadas, por exemplo. “Até agora, 250 já foram condenados por crimes graves. Os números são provisórios porque esse processo está em desenvolvimento”, disse.
Já o deputado da Argentina Remo Gerardo Carlotto afirmou que foram abertos 365 centros clandestinos de detenção no país durante a ditadura militar. Ele disse que os julgamentos dos crimes praticados pela Operação Condor devem ser considerados como uma política de Estado. “O Estado democrático deve prestar contar daquilo que foi feito pelo Estado terrorista anteriormente”.
O deputado declarou ainda que a ditadura na Argentina contou com o apoio de grandes grupos econômicos. “Um dos grupos se colocou à disposição do regime para sequestrar 300 pessoas, uma delas continua desaparecida até hoje”, disse.
Retrocesso no Uruguai
Por sua vez, o jornalista do Uruguai Samuel Blinxen afirmou que houve retrocesso no seu país com relação à investigação da Operação Condor. “O Estado uruguaio não quer saber quem cometeu os delitos. O Uruguai amparou a impunidade.”
Ele disse que a Operação Condor é a expressão máxima do terrorismo do Estado nos países – Brasil, Chile, Argentina, Paraguai e Uruguai - que se uniram para cometer crimes como prisões ilegais e assassinatos.
“A operação promoveu o extermínio dos atores sociais que podiam alterar o livre jogo do mercado. Os militares não estavam sozinhos. Eles precisavam de dinheiro, transportes e comunicação”, afirmou.
Revisão da anistia
A deputada Luiza Erundina (PSB-SP), presidente da Comissão Parlamentar Memória, Verdade e Justiça, espera que a pressão da sociedade civil torne possível a revisão a Lei da Anistia (6.683/79) para punir os agentes do regime militar que torturaram presos políticos.
Ela disse que o seminário é importante para ajudar na investigação sobre a participação do Brasil na Operação Condor. “Se for o caso, vamos encaminhar as informações levantadas no seminário ao Ministério Público e à Comissão da Verdade. Todos os crimes de tortura, perseguição e assassinatos se deram numa articulação criminosa entre os países que promoveram essa operação”, disse.

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