sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Quem matou o menino Danilo?

Artigo do jornalista Corrêa Neto.
(http://www.correaneto.com.br)

Tinha apenas 14 anos de idade e sonhava fazer tudo o que os meninos de sua idade gostam de fazer. Quem sabe se imaginava crescido, bem empregado, ganhando um salário decente que lhe permitisse ajudar seus pais, pobres como ele de bens materiais, mas riquíssimos de um amor que lhe foi dedicado enquanto viveu. Um amor molhado pelas lágrimas da saudade, de tristeza e de uma revolta compreensível, contra uma sociedade injusta que deixou seu menino morrer, sem a assistência adequada que seus pais, pobres, não tinham como oferecer.
O menino Danilo Costa morreu hoje por volta das nove horas da manhã. Sofria de um câncer nos ossos que produziam dores fortíssimas, com as quais convivia inclusive sem os remédios que as amenizavam, porque seus pais não tinham dinheiro para comprar.
No início de janeiro o juiz Marconi Pimenta visitou o menino, viu as condições dele e acionou o Ministério Público. Danilo foi levado para o hospital e logo depois devolvido para sua casa, com a promessa de que seria encaminhado para tratamento fora de domicílio, em Belém. Trinta dias depois Danilo continuava em sua casa, sofrendo horrores, sem atendimento e sem recursos para custear o tratamento.
Esta semana a jornalista Alcinéa Cavalcante tomou conhecimento da situação do menino, e publicou matéria em seu blog, num tom de apelo, pedindo que alguém, até por compaixão ajudasse a encontrar uma solução para o problema do adolescente. Foi atacada e acusada de politicagem, porque os políticos irresponsáveis e insensíveis, junto com seus acólitos, não querem que notícias verdadeiras, do interesse da população, sejam levados ao conhecimento dela.
O menino Danilo não morreu de causas naturais, por um acidente infeliz, ou por alguma fatalidade. Ele foi morto por alguém que tinha a responsabilidade de preservar sua vida, e possuía instrumentos para fazer isso. Não é criminoso apenas aquele que mata com as próprias mãos. Criminoso também é quem contribui para que a morte aconteça, se omitindo da prestação do socorro a quem precisa e tem o direito de receber. A politicagem não está em denunciar isso à opinião pública, e sim em desviar dinheiro público, que se bem usado poderia salvar vidas preciosas como a do menino Danilo, que morreu hoje, em sua casa, porque até um leito de hospital lhe foi negado. E a culpa é da jornalista que publicou a notícia?
O caos na saúde pública do Amapá está estabelecido desde 2003, quando o governo do Estado “comprou“ quatrocentos mil frascos de soro, pagando preços astronômicos e até hoje não se sabe onde esse soro foi parar. Depois vieram as lamentáveis cenas das carretas, supostamente cheias de medicamentos que “o governo anterior“ deixou o prazo de validade vencer. A perícia da Policia Técnica desmentiu tudo. Os medicamentos encontrados nas carretas, que tinham prazo de validade vencida, eram de responsabilidade do mesmo governo que comprou o soro invisível. A partir disso uma quadrilha, chefiada por um dos mais conhecidos políticos locais assumiu o controle da Secretaria de Estado da Saúde, e os assaltos continuaram. Todos os secretários de saúde nomeados até então pelo governador Waldez Góes foram presos pela Polícia Federal e indiciados por suspeita de crimes contra o patrimônio público, depois de duas operações, que segundo a PF apontaram para um desvio de quarenta milhões de reais. Esse dinheiro deveria servir para a compra de medicamentos que atenderiam as necessidades da população mais pobre, sem ter recursos para comprar remédios nas farmácias, como a família do menino Danilo que teve seus sonhos cortados por um câncer nos ossos.
Então, quem matou o pequeno Danilo? Foi a jornalista que publicou a tragédia que se abatia sobre ele, ou os criminosos que ficaram com o dinheiro que poderia servir para salvar sua vida?


Sizan Luis Esberci
Secretário Parlamentar

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