Tenho me sentido como o herói Lulu, personagem do belo filme italiano de Élio Preti, A Classe Operária Vai ao Paraíso. Depois de muita dor e sofrimento, percebo que o sonho consumista de ter plano de saúde é um paraíso inexistente, que nos torna escravos do mercado, nos distanciando da luta por uma sociedade mais justa e pelo bem comum que o SUS poderia representar.
No final de 2010, decidi fazer a cirurgia bariátrica. A burocracia do plano e a negativa de liberação do meu trabalho para realizar o procedimento, me fizeram adiar o sonho.
Em outubro de 2012, estimulado por minha mulher, voltei a desejar a cirurgia. O aparecimento de problemas cardíacos, gástricos e circulatórios me fizeram encarar os percalços. Vencida a burocracia inicial, tive o aceno no final de janeiro deste ano de que a cirurgia poderia ser realizada em 21 de fevereiro.
Tirei férias do trabalho, adiei compromissos acadêmicos para março e me prepararei para a cirurgia. Na semana anterior, fui ao plano de saúde. A atendente do setor de cirurgias e internações me informou que o procedimento tinha sido autorizado e que seria realizado na data marcada.
Na véspera do dia marcado, volto a ligar (essa minha mania de me certificar de tudo). Descubro que o plano de saúde, mesmo com uma demanda previamente agendada de duas cirurgias bariátricas por semana, não tinha comprado material para o centro cirúrgico. Ligo pro meu médico, que me confirma o adiamento.
Ligo novamente no dia seguinte e, do Centro Cirúrgico, me informam que minha cirurgia tinha sido agendada para 28 de fevereiro. Na segunda, dia 25, volto a ligar, insistente que sou. A funcionária me informa que minha cirurgia continua marcada para o dia 28. mas que fatalmente será novamente adiada porque mais uma vez o plano atrasou na compra de material cirúrgico.
O mais revoltante é que os canais disponibilizados para reclamações e informações nunca funcionam. Cheguei a mandar 5 e-mails e não obtive resposta de nenhum deles. Os números disponíveis no site da Unimed nunca atendem. E após dois adiamentos, até hoje não recebi nenhuma ligação me informando disso. Se soube de algo, foi porque liguei.
Proponho um desafio. Escolha uma pessoa que tem Plano Unimed e a peça para contar uma única história de descontentamento. Ela terá, todos tem!
Infelizmente não temos uma política séria de saúde no Estado: o pronto atendimento infantil está sucateado, o hospital das clínicas está um caos e o hospital de emergências cheira à morte. Resultado: somos obrigados a recorrer aos planos de saúde, como a Unimed, onde o atendimento é precário e não há compromisso com o paciente.
Esse é somente um desabafo, mas eu sei que motivará em muitos uma reflexão acerca do tema.
Renivaldo Costa
Jornalista
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