domingo, 17 de maio de 2009

Hospital de Calçoene em estado terminal

O Hospital de Calçoene, município localizado a 374 quilômetros de Macapá, está à beira do colapso. Esta foi a realidade encontrada pelo deputado estadual Camilo Capiberibe (PSB), presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Amapá (CDH-AL), ao visitar o local na manhã de oito de maio.
Acompanhado da deputada federal Janete Capiberibe (também do PSB), o parlamentar ficou estarrecido ao constatar que vários equipamentos cirúrgicos de fundamental importância não funcionavam, e que há quase um ano a cozinha não produz sequer uma quentinha. Mas, no rastro dessas deficiências estão outras mais graves. Durante a vistoria Capiberibe encontrou lixo hospitalar atirado desleixadamente no matagal que circunda o prédio, às proximidades das enfermarias pediátricas.
A própra enfermeira-chefe Sandra Elise de Souza reconheceu que a crise no Hospital de Calçoene ganha dimensões de calamidade pública. Ela relatou aos dois parlamentares do PSB que em fevereiro passado, uma mulher em trabalho de parto contraiu infecção hospitalar porque faltaram, na ocasião, até luvas cirúrgicas e medicamentos básicos para conter a ação das bactérias que poderia levar a paciente à morte. O caso chegou a ser abafado, mas, a família da parturiente denunciou o descalabro na Secretaria Municipal da Saúde.
História resumida
Criado em 22 de dezembro de 1956, o município de Calçoene é o retrato das contradições sociais e econômicas que grassam hoje no Estado do Amapá. Com 14.333 quilômetros quadrados, bem maior do que muitos países, como o Líbano (10.400 quilômetros quadrados) ou a República das Maldivas (298 quilômetros quadrados), situada no Oceano Índico, o município claudica entre a carência de aproximadamente 83% dos 9.060 habitantes, segundo números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados em 2008, e a opulência dos demais moradores, minoria que se destaca pelos empreendimentos econômicos em dois setores distintos: pecuária e pesca industrial.
Por conta dessa pobreza beirando a indigência, notada à olho nu por quem visita Calçoene, é que o desemprego, a violência, a prostituição e a deliquência juvenil ganham ares de desgraça generalizada, apesar da propaganda oficial do Governo do Estado insistir em dourar a pílula com projetos e programas cujos resultados são paliativos diante da crescente demanda. Além desses dramas diariamente vivenciados pela população calçoenense, o sistema de saúde pública funciona precariamente.
Tragédia recorrente
Há três anos e meio, mais precisamente em janeiro de 2006, o Conselho Regional de Medicina do Amapá (CRM-AP) encontrou o mesmo cenário no Hospital de Calçoene. Atendendo a solicitação do então representante do Ministério Público do Estado do Amapá no município, promotor de Justiça Afonso Guimarães, a comissão do CRM flagrou cenas deprimentes nos corredores e enfermarias do hospital.
Concluída a vistoria, Afonso Guimarães chegou a mesma conclusão dos parlamentares Camilo e Janete Capiberibe. Naquela ocasião, o promotor externou o seguinte veredicto: “A situação é muito grave, nada funciona [no hospital] e quem sofre é a comunidade. O Ministério Público está fiscalizando e agora com o relatório ciente oficialmente da situação em que se encontra a unidade de saúde”.
Como resultado da minuciosa inspeção, foi elaborado um relatório pontuando todas as mazelas encontradas no Hospital de Calçoene. Segundo o documento, seis enfermarias estavam desativadas por conta de uma interminável reforma (obras encontradas pelo presidente da CDH-AL durante a visita de oito de maio). Também, tanto no passado quanto no presente, faltam lençóis, as paredes continuam sujas, enfermarias estão sem portas, partes do forro estão apodrecendo, o sistema de ventilação não funciona, existem fiações elétricas expostas, ambulância parada por falta de manutenção e com prestação de serviço (UTI Móvel) que não existe, os banheiros permanecem sem água corrente, lixo, mato e lama são decorações cotidianas do hospital.
Indignações externadas
O mais surpreendente é que passados três anos e meio da inspeção realizada por Guimarães e os representantes do CRM-AP, pouco – ou quase nada – mudou no Hospital de Calçoene. E agora, com um agravante: A “Agência Transfusional”, uma espécie de banco de sangue do município, está completamente tomada pelo mato e pela lama. “Sem dúvida, trata-se de um dos piores crimes que um governo pode cometer: deixar uma população inteira sem atendimento digno e de qualidade no setor da saúde pública”, comentou, em tom de indignação, Camilo Capiberibe.
E esse sentimento igualmente foi externado pelo promotor de Justiça Afonso Guimarães quando da elaboração do relatório, em janeiro de 2006. Tão exacerbado ficou que chegou a pedir a interdição do Hospital de Calçoene porque “(...) a situação é [e continua sendo] tão precária que até dois sapos foram encontrados no setor de esterilização”. Camilo e Janete Capiberibe não encontraram os dois sapos, mas, surpreenderam um cão malcuidado dormindo na cozinha do hospital.

ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO AMAPÁ
Gabinete do Deputado Camilo Capiberibe – PSB/AP
Assessoria de Comunicação
Texto e fotos: Emanoel Reis
FENAJ 1.380-DRT/PA
Contatos: 096.9976.4715/8111.2230

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