Por Ana Luiza Moulatlet/Redação Portal IMPRENSA
O jornalista Thiago Guimarães, do Diário da Região, de São José do Rio Preto (SP), foi detido na última sexta-feira (26/06) após ir à delegacia para entregar quatro porções de maconha compradas durante a produção de uma reportagem. Publicada no último domingo (28), a matéria tinha como objetivo mostrar a facilidade com que as pessoas compram e vendem drogas na cidade.
Participaram da apuração da reportagem o jornalista, um fotógrafo e dois motoristas do jornal. "Não me identifiquei como repórter quando cheguei no ponto de venda de drogas. No início, pensei em acompanhar omo funcionava o tráfico. Mas depois fui conversando, conseguindo informações, e achei que seria interessante comprar a droga, para provar que o tráfico existe", declarou Guimarães ao Portal IMPRENSA.
"Basta encostar o carro, descer o vidro e fazer o pedido. Em alguns casos, a encomenda é entregue imediatamente após o pagamento. Em outros, como no drive thru de uma lanchonete, o pedido é feito em um local e a entrega alguns metros à frente. São as bocas de fumo de Rio Preto (...) Durante a produção da reportagem, nenhum veículo da polícia foi visto patrulhando as proximidades das bocas de fumo. Até sexta-feira, as bocas funcionavam e os traficantes agiam livremente", diz um trecho da reportagem.
Antes de publicar a matéria, por volta das 18h de sexta-feira, o repórter levou a maconha ao delegado Fernando Augusto Nunes Tedde, titular da Delegacia de Investigações sobre Entorpecentes. Com base no artigo 33 da Lei Antidrogas 11.343/06, o delegado decretou a prisão do jornalista. Segundo o artigo, adquirir drogas "sem autorização ou em desacordo com determinação legal" é crime com pena de reclusão de 5 a 15 anos e pagamento de 500 a 1.500 dias-multa.
Guimarães contou que sua chefe de reportagem foi à delegacia com um advogado, e conseguiu liberá-lo após encontrar uma brecha na lei - que determina que não pode ser preso por porte de drogas quem se apresenta por livre e espontânea vontade. "Se não fosse isso, eu passaria a noite na cadeia, até que arrumassem um habeas corpus para mim", disse o jornalista.
Ao repórter, o delegado afirmou que se não o prendesse, poderia "ser repreendido por prevaricação". Após três horas e meia detido, Guimarães foi liberado; Tedde fez um boletim de averiguação de infração à lei de entorpecentes. Agora, os policiais vão investigar as circunstâncias da compra e as denúncias do Diário.
Segundo o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo, diretores da Regional Rio Preto protestaram contra a decisão do delegado. "Os policiais lotados nessa delegacia poderiam demonstrar que trabalham de outra forma, por exemplo, prender traficantes que vendem essa droga que é facilmente adquirida pela cidade, como mostrou o jornalista na produção da reportagem. Em vez disso, e com essa atitude truculenta dispensada ao jornalista, o delegado assina o 'atestado' de incompetência", disseram.
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