Mãe de dois filhos, a dona do lar Jéssica Lima, 29 anos, todos os dias tem que "correr atrás" do principal componente para executar as tarefas de casa: a água. Para dar tempo de preparar o café da manhã antes do horário de serviço do marido e da escola das crianças, ela tem que cair da cama ainda às 5h e percorrer cerca de 320 metros - duas vezes ida e volta o trajeto de 80 metros - carregando nos braços dois baldes, com os quais pega água na torneira que atende a 32 famílias de uma parte do bairro Infraero II.
"Essa primeira levada é para tomar banho e fazer café. Como é água de poço, tem que colocar no fogão, e esperar esfriar, antes de por na geladeira", conta Jéssica Lima, com tom de bom humor, apesar das dificuldades.
Ainda na zona Norte, porém, numa situação mais confortável, a também dona do lar Elma Lúcia Paixão Lima, 38 anos, só tem que andar dentro dos 28 metros quadrados de sua cozinha para preparar a primeira refeição do dia - sem o detalhe de ferver o líquido -, enquanto seu esposo e um casal de filhos se revezam para tomar banho antes de irem ao trabalho e a escola.
Moradora do bairro Jardim Felicidade I há mais de uma década, ela classifica como "bom" o abastecimento de água tratada que chega à sua residência por meio das adutoras da Companhia de Água e Esgoto do Amapá (Caesa). "Alguns anos atrás, faltava água o ano todo. Mas, nos últimos meses não têm faltado, alguns dias fica muito fraca, mas não chega a faltar", avalia.
Os problemas que distanciam a dificultosa rotina de Jéssica do dia-a-dia mais cômodo de Elma estão próximos de ser resolvidos. Isso porque o Governo do Estado conseguiu recursos para expandir e melhorar o fornecimento de água tratada não só às torneiras das casas dessas duas mães de família da zona Norte, mas para todas as residências de Macapá. O anúncio da verba pública foi feito nesta sexta-feira, 15 de março, pelo governador do Amapá, Camilo Capiberibe, durante cerimônia ocorrida no Palácio do Setentrião.
Após investir mais de R$ 1 milhão - recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) - na elaboração do projeto de Complementação das Obras de Ampliação do Sistema de Abastecimento de Água de Macapá, o Governo do Amapá conseguiu acessar R$ 132.968.842,96 junto ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC II) - montante que supera o montante do PAC I.
O projeto foi concebido visando a universalização do serviço público de abastecimento de água tratada a todos os bairros da capital amapaense, alcançando bairros como Infraero, Açaí, Brasil Novo, Boné Azul, Parque dos Buritis e Loteamento Amazonas, seguindo pela rodovia do Km-9 até os bairros Marabaixo I, II, III, IV e V, além de Goiabal, Loteamento Platon, Cabralzinho e Lagoa.
As obras hoje em execução estão incluídas no projeto. Depois de entregue, elas irão duplicar a capacidade de captação, tratamento e distribuição de água na cidade. Os bairros beneficiados com os investimentos do PAC II ainda são desprovidos de rede de distribuição, enquanto que em outros, onde já existe a rede, o abastecimento vem sendo recuperado, devendo atender com satisfação após a conclusão das obras em andamento.
O presidente da associação de moradores dos bairros Marabaixo I, II e III, Goiabal e Km-9, Jairo de Oliveira, que esteve presente na solenidade desta sexta-feira, festejou o anúncio dos recursos. "É com muita felicidade que recebemos a notícia porque há muito tempo os moradores dos bairros que a nossa associação engloba consomem água de poço e, por isso, estão sujeitos a contrair doenças. Por isso, agradecemos ao governador", comemorou.
Já a presidente da Associação de Moradores Jardim América - que engloba os bairros Marabaixo IV e V - Marlene Paula Souza, faz uma previsão do quanto mudará a vida das pessoas quando a água tratada pela Caesa chegar até as torneiras das casas. "Nesses bairros, nós temos quase todos os tipos de necessidade, mas a energia e a água requerem certa urgência. São bairros novos, então precisamos muito da ajuda do governo. Nós temos que acordar mais cedo porque temos que carregar a água, puxar a água do poço, na corda, na mão. Então, a água encanada vai melhorar muito a vida de nos moradores".
O governador do Estado observou a amplitude do projeto lembrando que mais de 63% da população do Amapá vive na capital, Macapá. "Os bairros que já têm água tratada terão uma melhoria no fornecimento e os que não têm, como Marabaixo, Lagoa e Goiabal, terão água na torneira. Também temos que ressaltar o andamento das obras do PAC II: quatro anos antes da nossa gestão, apenas 2% destas obras haviam sido executados. Hoje, elas estão em 40% de execução", avaliou Camilo Capiberibe.
O presidente da Caesa, Ruy Smith, destacou o impacto que a aplicação dos recursos vai ter na economia local. "Teremos várias obras dentro deste projeto. E, cada uma delas, vai proporcionar a geração de empregos diretos e indiretos. Isto vai aquecer o mercado da construção civil", analisou.
Segundo ele, levando em consideração o tempo de firmação de contrato com a Caixa Econômica Federal - que repassa os recursos do PAC aos cofres dos Estados -, e o processo licitatório, as primeiras obras do projeto de Complementação e Ampliação do Sistema de Abastecimento de Água de Macapá deverão iniciar dentro de cinco meses.
Obras
Atualmente, o governo constrói uma nova Estação de Tratamento de Água (ETA) e recupera as duas existentes, constrói ainda uma nova adutora de água bruta, novos reservatórios, ampliando a capacidade de reserva de 8.500 metros cúbicos para 34.500, adquire novas bombas de distribuição e faz mais 67 quilômetros de rede de distribuição.
Com o novo projeto aprovado, a Caesa realizará a duplicação da capacidade de tratamento do módulo 1, implantará 5 elevatórias de água tratada e reabilitará duas existentes, vai construir quatro adutoras de água tratada, totalizando 18,1 km, implantará 181 km de rede de distribuição , implantará 19.590 ligações prediais, 12 mil micromedidores e 19.590 hidrômetros.
As obras do PAC II implicarão no aumento do índice de atendimento a população urbana de Macapá, com abastecimento de água passando dos atuais 62% para 100%, beneficiando inicialmente 425 mil habitantes e com capacidade para atender o crescimento populacional até o limite de 550 mil habitantes, ou até 2.022.
Elder de Abreu/Secom
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